Seguradoras que não modernizarem processos, automatizarem decisões e adotarem tecnologia como base da operação ficarão para trás.
SegurosA indústria de seguros passou anos funcionando como se estivesse protegida por uma redoma. O setor cresceu, sobreviveu a crises e manteve suas margens mesmo sem grandes saltos de modernização. Mas os últimos anos derrubaram essa ilusão. Baixa produtividade estrutural, processos analógicos, portfólios inchados, dependência de trabalho manual e uma experiência do cliente que não evolui na velocidade de outros setores criaram um cenário de urgência absoluta. E 2030 é o limite temporal que separa as seguradoras que farão parte do futuro das que serão apenas rodapé na história do mercado.
Este artigo foi construído com base nas previsões da McKinsey sobre o futuro do setor de seguros, conectando essas análises à realidade atual das seguradoras. A pandemia acelerou a digitalização e trouxe novas inquietações para o setor, expressas em buscas reais como “como aumentar produtividade no seguro sem elevar custos”, “como automatizar sinistros sem perder qualidade” e “qual o papel da IA no seguro até 2030”. Esses questionamentos revelam uma certeza: o mercado precisa de respostas práticas e de transformações profundas para continuar competitivo.
A partir dessa inquietação, surge uma tese central que guia todo o debate: A seguradora de 2030 deve operar com produtividade, flexibilidade e mentalidade de empresa de tecnologia. Isso significa repensar produtos, distribuição, underwriting, sinistros, TI e funções de suporte, conectando tudo em uma visão integrada. Não é um “projeto”, é uma reconstrução.
A próxima década marcará o fim da era dos produtos de seguro hipercomplexos, construídos para impressionar internamente, mas incapazes de engajar clientes na ponta. Em 2030, o mercado tende a ser dominado por produtos mais simples, modulares e compreensíveis. Isso não é uma aposta, é uma resposta ao comportamento de consumo.
Hoje, muitos portfólios P&C têm entre 50 e 100 produtos. E quando se analisa a receita, a verdade aparece: mais de 90 por cento do faturamento vem de uma pequena fração da lista. Esse excesso não gera valor, apenas aumenta custo operacional.
Por isso, a simplificação se torna inevitável.
Algumas tendências já são claras:
Essa simplificação aumenta satisfação do cliente e diminui custos internos, ao mesmo tempo em que abre espaço para inovação contínua.
O consumidor de seguros em 2030 transitará naturalmente entre múltiplos pontos de contato e simplesmente não aceitará experiências desconectadas. Ele começa no digital, faz uma pesquisa rápida no site, migra para um vídeo com consultor, volta ao app para ajustar uma cobertura, tira dúvidas pelo WhatsApp e finaliza pelo celular, tudo isso esperando continuidade absoluta. É um comportamento que destrói de vez o antigo dilema entre “digital ou físico”. O futuro não é a soma dos canais, é a fusão deles.
E essa visão não é teórica. Segundo artigo publicado na Revista Cobertura, o omnichannel já deixou de ser diferencial e se tornou fundamento básico para criar relacionamentos duradouros no mercado de seguros. O texto destaca que o cliente moderno exige rapidez, autonomia, mas também a segurança de falar com alguém quando necessário. Mais do que isso, mostra que a integração de canais, WhatsApp, e-mail, portal, SMS, redes sociais, gera conveniência para o segurado e eficiência operacional para a seguradora. A redução de esforço interno e a visão mais clara do comportamento do consumidor tornam o modelo omnichannel não só desejável, mas inevitável.
Ao conectar isso com previsões globais, o cenário fica ainda mais evidente. Pesquisas citadas pelo BCG mostram que apenas cerca de 10% dos consumidores concluem todo o processo de compra de seguros 100% online. A maioria inicia a jornada no digital, mas busca confirmação humana antes de tomar decisões de maior impacto. A McKinsey reforça o mesmo ponto ao mostrar que agentes e consultores permanecem como os canais com maior satisfação do cliente. Ou seja, o consumidor quer autonomia, mas não quer sentir que está sozinho quando o assunto é proteção.
Esse comportamento híbrido cria uma exigência brutal para as seguradoras: a experiência precisa ser contínua e sem fricção. Não basta “estar presente” em vários canais. É preciso que todos eles conversem entre si.
Quando essa lógica funciona, a seguradora reduz custos, ganha eficiência e ainda fideliza. Quando falha, perde cliente para quem oferece fluidez. Omnichannel não é tendência, é sobrevivência.
Até 2030, a precificação manual deixará de existir na maior parte dos produtos simples. A evolução de modelos de machine learning, IoT, wearables e dados externos permite que preços sejam ajustados em tempo real, baseados em comportamento, risco e características individuais.
Mas essa transformação não elimina o papel dos especialistas. Pelo contrário, eles se tornam ainda mais valiosos para os casos complexos, onde o julgamento humano continuará sendo indispensável.
O ponto-chave aqui é o uso estratégico da automação. Ela permite:
É a combinação de homem e máquina que define a produtividade do underwriting no futuro.
O avanço da digitalização no Brasil já mostra como será o caminho até 2030. Como destacou o Times Brasil em 2025, seguradoras e insurtechs nacionais vêm acelerando a contratação digital, permitindo que clientes emitam e ajustem apólices com poucos cliques. Esse movimento revela uma expectativa crescente por processos simples, rápidos e sem burocracia, antecipando o que se tornará padrão no fim da década.
A emissão de apólices será praticamente automática em 2030. A integração entre pricing, underwriting e emissão criará um fluxo contínuo em que aprovação e formalização estarão a poucos segundos de distância.
O pós-venda seguirá a mesma lógica. O centro de atendimento deixará de ser um “resolvedor de chamados” e se tornará um núcleo de inteligência de relacionamento.
Chatbots, modelos generativos, análise preditiva e automação transformarão as interações rotineiras, enquanto humanos atuarão apenas nos casos que exigem empatia, negociação ou análise especializada. Ao mesmo tempo, o autosserviço evoluirá para algo realmente funcional.
Essa transformação gera ganhos duplos: eficiência e retenção. Porque, quando o cliente navega com menos fricção, ele permanece mais tempo.
O setor de sinistros é, historicamente, um dos mais lentos e caros das seguradoras. Mas também é onde tecnologia e produtividade se encontram de forma mais poderosa. Em 2030, IA será capaz de segmentar, direcionar, prever fraudes e acelerar processos, enquanto humanos atuarão em casos sensíveis ou excepcionais.
As seguradoras que mais evoluírem nesse tema terão:
Essa estrutura reduz severidade, frequência e insatisfação, transformando sinistros no que sempre deveria ter sido: Um momento de fidelização.
A área de tecnologia será o ponto de virada das seguradoras que desejam continuar relevantes até 2030. Um estudo recente da Accenture mostra que o setor está migrando rapidamente de sistemas antigos, grandes e engessados para estruturas tecnológicas modulares que permitem montar, ajustar e evoluir processos com muito mais agilidade. A pesquisa destaca que esse modelo de organização tecnológica aumenta significativamente a velocidade de inovação e prepara as seguradoras para um mercado que exige adaptações constantes.
O relatório cita uma projeção importante: empresas que adotam essa arquitetura modular conseguem implementar novas funcionalidades até oitenta por cento mais rápido do que concorrentes que permanecem presas a sistemas monolíticos. Essa diferença é enorme e explica por que a tecnologia se tornou o principal fator de competitividade no setor de seguros.
A seguradora de 2030 será construída sobre blocos tecnológicos independentes que podem ser conectados conforme a necessidade do negócio. Essa modularidade permite que cada parte do sistema evolua sem interromper toda a operação. Ela também facilita integrações, acelera a modernização de produtos e reduz a dependência de sistemas antigos que limitam a inovação.
Alguns elementos se tornam fundamentais nesse modelo.
Existe um ponto que precisa ser dito de forma direta. A tecnologia do futuro será mais eficiente, porém mais cara. Isso não significa desperdício. Significa investimento estratégico. Gastar mais em tecnologia moderna evita custos muito maiores com manutenção de sistemas obsoletos, lentidão de projetos, falhas operacionais e incapacidade de competir com empresas que já nasceram digitais.
O futuro não é TI barata. É TI estratégica.
Em 2030, RH e finanças deixarão de ser áreas de apoio e passarão a ocupar um papel estratégico dentro das seguradoras. A evolução digital exige que as rotinas administrativas sejam amplamente automatizadas, abrindo espaço para que profissionais dessas áreas atuem com foco em pessoas, cultura, dados e tomada de decisão.
No RH, atividades operacionais como folha, documentação e atendimento interno serão cada vez mais automatizadas. Isso permitirá que as equipes concentrem energia na formação de competências digitais, no desenvolvimento de talentos e na criação de uma cultura voltada para inovação e eficiência. O desafio não será apenas contratar, mas preparar pessoas para operar em modelos mais ágeis e integrados.
Em finanças, os processos ganham precisão e velocidade com o uso de painéis unificados, dados integrados e relatórios automáticos. A área deixa de reagir ao fechamento do mês e passa a atuar de forma contínua, apoiando decisões de negócio com informações atualizadas e confiáveis. A capacidade de antecipar cenários, interpretar tendências e ajustar rotas rapidamente será decisiva para a competitividade das seguradoras.
A verdadeira mudança é que o tempo das equipes deixa de ser consumido por tarefas repetitivas e passa a ser direcionado para análise, estratégia e geração de valor. RH e finanças tornam-se pilares da evolução operacional, sustentando equipes mais preparadas, processos mais eficientes e decisões mais inteligentes.
O maior risco das seguradoras hoje não é tecnológico. É acreditar que ainda podem competir com a mentalidade de um mercado estável. Até 2030, só permanece relevante quem for mais leve, mais integrado e capaz de decidir com rapidez. Essa transformação depende de dois movimentos simultâneos. Reduzir custos por meio de padronização e automação. Reconstruir o modelo operacional com base em tecnologia capaz de acelerar tudo o que antes era manual.
Nesse contexto, soluções de gestão de regras se tornam decisivas, especialmente quando o objetivo é ganhar velocidade e consistência nas áreas mais técnicas. O case da Sura mostra isso na prática. A seguradora enfrentava lentidão e fragmentação na subscrição, com regras espalhadas por documentos e sistemas distintos. Ao adotar a Abaccus Insurance como plataforma para centralizar decisões, a empresa passou a revisar regras setenta por cento mais rápido, ganhou autonomia para ajustar critérios técnicos e criou um processo mais seguro e auditável. O resultado foi um fluxo de subscrição mais confiável e uma experiência melhor para corretores e parceiros.
Casos como esse revelam o caminho para o setor. Em um mercado onde produtividade e precisão determinarão quem lidera até 2030, usar tecnologia para simplificar decisões e eliminar retrabalho não é mais diferencial. É condição de sobrevivência.